sábado

ROGO

Quando eu não mais acordar...
Esperem!
Não me movam o corpo tão rapidamente.
Deixem-me esfriar a pele devagar
Como uma sôfrega sinfonia em pianíssimo.
Permitam estalos ao meus nervos e a cada susto,
Mirem meus espasmos sem por que.
O quarto sentirá o meu imóvel evadir,
Respirando ainda meu cheiro
Que breve se tornará insuportável,
Assim como meu silêncio.
Neste dia, emprestarei aos móveis
Uma quietude desesperadora,
E somente a indiferença das formigas
Devolverá algum movimento ao eterno.
Deixem as horas me saborearem lentamente
Até que me sobre o infinito apenas.


quinta-feira

ALI E AQUI

Encolhem-se pálpebras de cílios cerrados
Ondulações de íris experimentam outras imagens
Lábios, entreabertos, exalam pequenos roncos
Sutis espasmos de pernas retas e frias
Transportam sentidos, cruzam outros mundos
Ali ouve-se novamente sua voz:
"Te busco na íngreme descida onde habitas"
Mas estou na esquina, sob galhos, folhas e penumbras
E te aceno!
Você, com uma brancura impecável me vê e vem.
Miro os galhos, e enquanto te espero faço poesias de folhas.
Esticam-se pálpebras de cílios abertos
Ondulações de íris experimentam as mesmas imagens
Lábios, cerrados, minam rachaduras
Brusca contração de pernas frias
Deportam sentidos, separam mundos
Aqui não ouve-se novamente sua voz
Somente grita nos ouvidos de minhas vísceras, a poesia.




segunda-feira

Emergiu...
Ainda sob o abissal de nossa noite,
Tateando abismos
Apoiou-se no criado mudo dos seus medos,
E silenciosamente, calçou seus sapatos
Que nunca saem das beiras.
Mirou com precisão sua falta de direção
E partiu...
Roubando das paredes toda frieza e solidez
Para se fazer muro.
Saiu...
Fechou a porta sem fazer barulho,
Tentando não despertar o que já havia acordado
Com o rangido de sua ausência.