segunda-feira

DESAPARECENDO

Não és mais um.
Proliferaste em ti até perder-se,
Em tua caótica infinitude,
De ser em ser e ser em ser,
Até não ser.
Tuas galáxias se chocando,
E expelindo seus delírios coloridos,
No corpo cometa que risca a existência,
Rasgando o céu estrelado da sua pele.
Teus olhos, dois buracos negros,
Sugando tudo através do nada,
Choram e choram seus restos confundidos,
Um sonho ido em cada lágrima caída.
Não és mais um.
Diluído está na multidão que inventou,
Como um cosmo para sempre expandindo,
Aguardando o momento incerto da explosão.




quarta-feira

A NOITE QUE VEM

Inquieta, a noite sambanga dentro da escuridão,
Tateando a luz que outrora sucumbiste,
Em meio aos teus dedos lânguidos,
E tua pulsação infinita.

A carne que expulso desta tela,
É minha pintura viva lambendo a vida,
Estuprada pela existência,
Que lhe morde enquanto és.

O corpo engolindo o cosmo
E babando teu movimento
Nas beiras do existir.

A pele que explode na ida dispersa,
Abraça com o sangue o teu gosto,
Terra preenchida de viver.


DÉJÀ VU

Veio-me inteiro como uma lembrança fugida,
A penetrar minha existência com obscuros olhos,
Remexendo toda a terra na qual nos enterrei,
Quando teu beijo era apenas um fantasma assombrando meus lábios.

Despertas, nossas peles recém-nascidas,
Choram o belo mistério da vida,
Através do suor que de nós escorre,
Fazendo brotar no chão de nossos corpos, brotos de prazeres.

Encarnados agora estamos em nossas carnes fundidas,
Como um cheiro parido que devasta o passado,
Exalando da poção de nossas vísceras em uníssono.

E a canção que emerge de nossas peles roçadas,
Desenham nas linhas estonteantes dos lençóis,
Nosso encontro, ardência da vida.