segunda-feira

Hoje meu amor foi um cochilo.
Adormeceu sem perceber, debruçado na escrivaninha,
Chegando a experimentar a sensação morna de beirar os sonhos.
Mas logo despertou-se, e olhando para o relógio,
Que marcava insistentemente, o tempo da saudade,
Bocejou com os lábios secos,
E voltou à realidade!



sábado

Escrevo para as estrelas
Com a tinta negra da amargura,
Um poema de desespero,
E uma lágrima farta em face pura.

FOTO

Árvores inclinadas à um vento,
Venta cego derrepentemente modelando,
Formas ansiosas de fogo que ardem,
No olhar atento ao que não fixa,
Oculto no capuz, tempo que se risca.
Pudesse dar eu expressão à este mistério:
A manhã é escura, não a noite!
A minha boca se perdeu no vácuo,
Há um silêncio preso a um açoite.
Colunas luminosas, bosques sem sono,
Envolva-me no manto em que me cubro,
Com coloridas formas preencha o abandono,
Apaga-me no negro deste culto.
Desta retida imagem soturna,
Perdida no espaço pulsante,
De sombras espremidas,
Criando medonhos instantâneos,
Que do flash se põe roto,
Aos olhos nus que toco,
Desde o fim ao começo dessa foto.


segunda-feira

VENTA-ME


Sopra-me, Vento, a folha madura,
Varrendo-a pelo meio fio do meu corpo,
Entrelaçando-a com os restos estocados nos teus cantos,
Carregando-a ar à fora feito bailarina
Dançante...
Cambiante...
Intrigante...
Deite-a suavemente no chão do teu corpo, Zéfiro,
E deixe sua textura arranhá-lo,
Que em cambalhotas e piruetas,
A folha se equilibra em tuas linhas
Cortantes...
Insinuantes...
Inebriantes...
Arraste-a para seu redomoinho dos desejos,
Através da ventania louca que a fragmenta, e venta,
Pedacinhos enlouquecidos de f o l h a madura que roda,
Nos rodopios e pios das almas
Incessantes...
Exorbitantes...
Apaixonantes...





terça-feira

ATÉ VOCÊ...

Teu silêncio plana, agora, sobre a rouquidão dos móveis empoeirados,
Pingando em minha nuca teu doce suor orvalhado.
O vento que emana de suas asas invisíveis, ruflando,
Me balança os cabelos, que em vão, tentam te alcançar.

Teus olhos vagueiam entre as fissuras do meu suspiro,
Umedecendo o ar seco que me bafeja a solidão.
Então, tento tocar teu corpo entre os sons dessas teclas,
Que são meus gritos, em melodia, lhe chamando.

De que somos feitos nós?
Senão dos ruídos soturnos da madrugada,
Das penumbras sôfregas descansadas nas calçadas,
De estrelas que riscam efemeramente o céu.

Das nódoas escuras que preenchem a lua,
Dos passos sorrateiros vindos do silêncio das esquinas,
Dos trêmulos movimentos dos corpos bêbados,
Dos caminhos infinitos do mundo.







sábado

POÉTICA DE UM LOBO

Prematura entre as linhas do crepúsculo,
Que débil, ainda costura com fios de ouro,
A roupagem imódica dos céus.
Ela surge arrepiando os pelos da noite.
Envergando as tripas penumbrosas da cidade,
E refletindo o amarelo rajado dos olhos espantosos dos gatos,
Que riscam a rua como a escuridão rabisca o espaço.
Ela transborda o horizonte engolindo o próprio céu.
Rasga as peles ventando garras na espinha,
E bafeja no sangue da superfície os teus ruídos negros.
Feiticeira da Noite...
Sussurra feitiços nas entranhas dos homens,
Colore com poções quiméricas as pétalas das flores,
E arranha o mistério nos corpos dos animais.
Noiva da Noite...
Enlaça teu véu na dança da existência,
Beijando o silêncio que é teu segredo,
No altar sagrado do Cosmos.
Oh, Lua Cheia...
Me enlouquece os sentidos,
Deriva minh'alma,
Que para você minha escrita é um uivo.