quarta-feira

DORMIR

Olhos cerrados.
Bocas semi-abertas.
Corpos horizontais, ondulados e estáticos.
Salivas borbulhadas em tecidos.
Sons, ruídos, latidos, silêncio...
Roncos, delírios, rangidos, grilos...
Há paredes que conversam,
Ruas que andam,
E vazio que vomita.
Há carros zombie,
Sombras que ardem,
E sonhos que saltam.
Cabeças adentrando nas espumas,
Vão escorrendo por baixo de camas.
Pés calçando os travesseiros,
Calcanhares de algodão!
A geladeira está cantarolando.
Cenouras dançantes?
Corpos derretidos permeio as ripas se espalham,
Fragmentos conectivos.
Conecta-poeira.
Conecta-pé-de-sofá.
Conecta-teto.
Conecta-interruptor.
coné qui tá?





domingo

VÉU DA TARDE

A pele está fria, mas não está morta.
Adormece no vácuo inócuo do vazio.
E os ruídos que emanam de seus poros,
São choros e risos musicados.
Corpo...Que corpo?
Corporifica esta intensidade domingueira.
Estremece esse dia até a sua flacidez.
Dia flácido, gélido, pálido...
Tua epiderme ruga sobre meus traços de existência,
Tua tarde estriada tarda permeio meus sulcos.
Cria pelos...
Cheiros....
Pele da Tarde.
Reveste essa carne crua do tempo.
Seja o véu dos ossos frágeis da vida.


SOMBRAS LÍQUIDAS

Arde o domingo,
E a solidão é oca.
Quisera eu saltar desse fio,
Borbulhar na boca o vinho,
Gritar dentro da fissura de um pensamento,
E mergulhar na soturna esquizoide do tempo.
Dedo-pé de goiabeira,
Escorrega em mim essa chuva que me entristece.
Goteja em mim essa demora...
Pinta-me com o gosto traquino da amora...
Mas, cinzas, me devolva,
Fogo, chama.
Me queima com seu olhar enublado.
Suba em mim, oh dia.
Antes que a noite me escureça!