segunda-feira

"Um amor para continuar vivo necessita alimentar-se.
Um amor somente se alimenta com outro amor.
Um amor que se alimenta apenas de dor não está vivendo, e sim morrendo!"

terça-feira

Visitante

Vieste hoje visitar-me em sonhos,
Em teu espírito todo revestido de alegria!
Tua risada minava meus anseios e fazia-me cócegas.
Sorri para teus olhos...
Que verdes, brotavam em minh'alma enrubrescida e trepidante.
Ousou um suspiro entre meus ombros,
E amoleceu o corpo que de ti era o calabouço.

Perto de ti calcei os chinelos trocados...
Como poderei caminhar?
E acordei.

segunda-feira

Nada diga sobre o que vês!
 Escape à realidade dos sentidos.
É uma neblina que escorrega sob a pele... devagar envelhecendo.
É um sol que raia no ínfimo do olhar que lacrimeja!

terça-feira

Chora Céu...chora Eu...

Adoro quando o céu chora...
Sem se importar com quem molha, 
Sem se importar onde alaga,
Sem se importar com o que arrasta ou faz fluir.
Fazendo-se poça e desviando caminhos caducos,
Barulha nos telhados sua canção melancólica
E pinga gelado nas cabeças efusivas que tempera.

Adoro quando o céu chora...
E sua face enuviada se fecha e escurece,
Transparecendo apenas os raios de lucidez que ainda lhe resta,
Anunciando a estrondosa loucura da qual padece e assusta.
Plantando com as lágrimas a promessa do novo fruto,
Regando com as dores os brotos esverdeantes da vida.

Adoro quando o céu chora...
Porque choro com ele esse choro de chuva,
E pingo com ele respingando o meu líquido.
Escorremos com o nosso lixo pela enxurrada,
Deixando que se desemboquem nos esgotos.
Mas também gotejamos pelas gretas dos Muros,
Umidecendo o cimento que enrijece nossa Vida.

sexta-feira

"O olhar emancipa-se adentro o cosmo e seus mistérios.
Oh, céu noturno!
Com quantas estrelas estás a me fuzilar a face?"

segunda-feira

LUTAS SOCIAIS

No alvorecer nosso de cada dia, abrimos os olhos para a vida e movemos o corpo para os sonhos.
A esperança aquecida pelos raios fúlgidos do sol, sambanga feito criança traquina pelas ruas de nossos pensamentos até escorregar pelo suor que emana do corpo em potência.
Os encontros trepidam o espírito daqueles que crêem e compõe a sinfonia ousada de se fazer som no silêncio do sofrimento.
Quantas vezes os olhos merejam perante a dor e por eles navegam o brilho e a ternura do cuidado.
E surge a pergunta: o que é possível?
Tudo é possível...viver é um infinito laboratório de possibilidades.
Lutemos pelos sonhos e não pelos ideais cravados no peito da raça humana, que a mortifica.
Inventar a própria vida e viver como obra é desvendar o grande mistério da existência humana.
A violência, a fome e a miséria, o abandono, a desigualdade, e outros tantos vilões nos assolam dia após dia.
São o reflexo da busca desenfreada pela felicidade andróide que artificialmente foi inventada para nós.
Felicidade de metal, insípida, incolor...automatismos robóticos que povoam a esterelidade do coração.
Amar é possível.
Conectar-se às raças, crenças, bandeiras e diferenças para se criar, se reiventar, surrealisticamente ser...
Borboletear pelas superfícies que compõe o cenário ambulante da vida.
Ousar outras dimensões.
A luta continua...
O povo tem fé...
Eu tenho fé no povo!



domingo

Fantasia

Quando o silêncio espreitou-me no canto vazio da noite,
Veio-me aos ouvidos tua linda canção em serenata.
Aturdida, ouvindo-lhe através da alma,
Tombava lentamente as lágrimas do coração.
E na inquietude de vos encontrardes,
Busquei-lhe invisível na nudez do espaço,
E não lhe toquei...
Teu corpo era o infinito que sobrava da ausência,
Que morosa, preenchia meu tempo.
Teu cheiro percorria minhas veias,
Esquentando a lembrança da epiderme.
Assim, não tardei a adormecer-lhe dentro de mim,
Para que seus sonhos povoassem os meus.


Perdida em meio as circunstâncias,
Me ausento em minha presença.
Sinto em enxurradas de saliva,
Gosto verde de outroras.
Quão explêndido crepúsculo a ameaçar-me a vida,
Com tal gozo de beleza que hoje é fraco e bruxuleante.

Da escuridão que lentamente afaga as árvores,
Restam os medos que sufocam a alma.
Penso em mim outrora como lobo,
Uivando na mata para a lua fria.
E esse desejo imortal em permear tua doce vida,
Levita na espreita de minha morte.

Quizessem meus olhos olharem os teus,
Em dia tão límpido de estupidez,
Porém, ficaram de castigo no escuro que a frieza de teus olhos refez.
Sou eterna contradição,
Já que invisível é o coração.
Sou palhaço em trabalho,
Mesmo quando o peito está em retalho.



Nostalgia Poética pela Noite

Deixei tudo para vos esperar...ò Noite que baixais,
Ressuscitando a macia negresa de flores sonâmbulas,
Entrecortando as migalhas de luz que ainda restam sobre as sombras da escuridão.
E sei que não esperei em vão...
Pois, a glória oriunda despertou-se de meu ser bruxuleante nas passagens difusas do amanhacer.
A aurora ardente, resplandecente de fendas sanguíneas sucumbindo o manto negro,
É apenas mais um adormecer meu,
Que entrecoberto de penugens ríspidas,
Emerge do abismo sonhante para a margem da espera ansiosa
De lhe sentir...lhe conhecer.
Ò Noite rodeada de mistérios,
Permita que eu alcance seu brilho por entre as estrelas pálidas e perdidas,
Desse vasto manto celeste.
E que o pincel do tempo jamais contente-se com o puro amarelo do sol,
Que me cega e machuca.
Permita que as chuvas noturnas arrastem para o núcleo da terra efusiva,
Todas as cores penetrantes de uma tela redonda guardada por um véu cósmico e fantástico.
Baixais mais e mais, ò Noite treval,
Até reencostar tua face cinzenta em meu colo repousado de espaço,
E preenchido de desejos imortais...



SOLIDÃO

Sol...Solidão..Sol-li-dar...Solidariedade!
Estar solitário é ser solidário consigo mesmo.
Como é difícil ser auto-solidário.
E perceber que estar a sós consigo próprio é poder experimentar-se, vivenciar-se.
Se me percebo no contato com o outro, pode ser no outro de mim mesmo...
Quem sabe nos infinitos outros de mim mesmo.
Solidão é solidariezar-se com sua multidão de "eus" nascidos e ainda não nascidos.
Solidão não é você consigo mesmo...
Solidão é a sua companhia solidária aos seus devires.
Não significa estar sozinho, significa estar com o povo de dentro.
Falar ou esbravejar com o povo de dentro, dançar ou esperniar com o povo de dentro, dar risadas ou chorar com o povo de dentro.
Com quem de mim irei ao cinema hoje?
Com quem de mim almoçarei hoje?
Com quem de mim?
É preciso ser solidário consigo mesmo para permitir-se ao povoamento.
É preciso povoar-se para ser muitos...

 

DESLIGAR

Escorrego-me na encruzilhada da vida,
Como asas dormidas de um sonho no espaço.
Cinzento, o dia debruça sobre meu dorso,
A espalhar o frio contido na ausência de seu abraço.

Colher teu suspiro no jardim matinal,
E na cesta enrubrecida de meu colo
Repousar teu sorriso de lua minguante
Fazendo de nossos cheiros um unívoco solo.

Não pedi mais a Deus nenhum...
Quando fitei teus olhos e beijei-lhe o cosmo
Arrolhada pelo que de ti saltava incomum.

Hoje, és poeira assentada sobre as lembranças,
Nas quais, com os dedos trêmulos
Ouso ainda rabiscar a esperança!

terça-feira

DORMEM OS OLHOS, ABERTOS!

As pestanas dançam sobre os olhos, feito bailarinas...
Dos lábios trêmulos esvoaçam  sussurros, cegos...
A língua não se cala dentro da boca, do pensamento...
As narinas sugam o silêncio ensurdecedor, do corpo...

As mãos frenéticas enxergam dos olhos, as unhas...
Cabelo que escorre não cerra, cílios...
Escuta as bochechas de cheias, orelhas...
Mastigam os dentes as palavras, vazias...

Saltam os sonhos líquidos, de mamilos...
Lençol que baba acorda, de susto...
Na escuridão acende o sono, dormido...
Vira para o lado a cama, sonâmbula...

Levanta travesseiro e conforta, a lua...
Deita cabeça na estrela, desperta...
O sol cacareja e o café, de pijama...
Escova a alma da noite com pasta, de insônia...


segunda-feira

Duas e Cinco

Era madrugada... e a loucura despertou-se em sobressalto.
Calçou-se com pantufas de nuvens, vestiu-se de corpo pelado,
E pisou sob o céu como quem voa pelo chão estrelado.

Cuspiu com elegância as sobras de dentes do jantar.
E no obscuro vazio de sua boca,
A lua cheia pôs-se a brilhar.

Assim, tão sorrateira pela madrugada
A chuva caiu tão desolada...
Mal pôde se conter!

Veio feito espirro de Deus
Feito vômito de bêbado
Depois de tanta vida beber!


Revérbero Lunar


A brasa do cigarro tem queimado mais rápido.
Parece estar sendo tragado por muitos...
Muitos sonhos, muitas lembranças!
Já sinto, com suavidade, os incontáveis tempos de aurora,
Escorregando entorpecido pelas nuvens macias do alvorecer.
Quem dera eu escorregar pela aurora dos sonhos,
Sem perder-me entre os tragos incontáveis do tempo.


No ocre amargo pintado pela sua ausência,
Prosta adormecido meu amor todo inventado.
Quisera despertar e saltar desta tela presente,
Mas nela vagueia feito fantasma num cadafalso.

Fica a me avistar da parede, com um olhar inócuo de pintura,
Como que balbuciando: que feiúra...me tira logo daqui!
E eu, feito criança birrenta, ponho língua e digo não:
- Ficarás aí pendurado, misturado às cores sôfregas da solidão.



quarta-feira

Diálogos Madrugadais

Você é um grande provedor da paz, você a multiplica através do pão de cada dia, sacia a fome com a ternura....acho lindo!

A recompensa é saber que tudo que se faz volta, entao procuramos fazer o bem independentemente.

"amar e mudar as coisas me interessam mais"

Como você aplica seu projeto?


Multiplicando a ternura, rizomatizando a sensibilidade e a necessidade da alteridade em todos nós, potencializando a arte e ramificando todo o amor possível e impossível de se dar.

Somos parceiros pelo respeito, pela liberdade de se existir...engenheiros do mundo!


"tudo passa a ser diferente quando se aprende a amar"
 somos jardineiros semeando a bondade, o amor, a paz, a liberdade e o respeito, para que colham os frutos de um novo mundo....de um mundo porvir
.




 O amor é a fortaleza, a prática dele representa a forma mais bela e singela de ser.
 A falta de amor é o vazio
.



De simplesmente e complexamente ser.

O amor é uma luzinha acesa.
O contrario dele, a escuridao.
Beijos de amor no coração...



Com teus beijos de amor, 
Acendeste meu coração
Que palpita no samba da vida ,
Pela avenida desse mundão.



Vou inspirado nesta noite!! sonhar contigo amor de longe , que por nao te ver sei que existe, pois sinto por dentro do que nem se explica, sinto de perto por ti que conheço em sorrisos.
 Longas noites adentro passei por ti e acordado fiquei, que quando te vi, nem pude mostrar, pois amor que a mim se descobre escondido e de medo de magoar. 
Passou de longe até olhar e nao ver, até de longe, aqui, agora, sentir.


Se entregue a este caminhante noctívago e ao navegares pela profundeza de teu oceânico, ouça minha cantiga de pássaro-sereia a te ninar....e embalado no meu colo sonoro abra-me teu coração para que eu possa colher estas flores e enfeitar nossa mesa de café da manhã.

Abrirei meu coração, que por ti dará as mais belas flores e do teu perfume, respeitarei o teu brilho de arco-iris amando em ti os pães. Ei de alimentar com minhas correntezas de vibrações, em paz lhe dou o pão e o vinho da minha fé e verdade amorosa. 
Te desejo as profundezas de sentimentos.

 Te desejo as ondas lindas da vida.
 maré cheia pro amor..
 noite quente...
 gripe passageira...
 Amor eterno!



Te desejo as lindas vidas do mar.


domingo

Prove e Verás

Se amargo gosto céus éis,
Provardes doce engano terra só.
Em inúmeros paladares sabor foge,
Descaminhos dos desejos surge então.
Pelos sóis dos almejados invernos vejo,
Suculentos olhos celestiais atraio.
Enquanto asfódelos ilusórios se somem,
Às bordas do cálice desmaranhando-se fôlegos.
Sucumbirdes tais formas em louvor,
Entoando a vontade descabida sois!

Poeira Estelar

As sombras rastejam na terra,
Como as estrelas sambangam no céu.
E teu suor é tão ácido,
Que me queima com tupor os instintos.
Sobe em minha efervescência caótica,
Inominável e quântica,
A lucidez fria e insolene dos sôfregos passos
Lhe ausentando rarefeito dos vibráteis de nós.


segunda-feira

Súbito Encontro

Entraste...sem que eu pudesse notar
E corrompeste a ausência de teu sexo.
Passaste por mim como ventania...
Não lhe convidei!
Esperaste por mim como as nuvens aguardam pela manhã, o brilho do sol.
Perambulaste junto à minha sombra,
Demarcando com tuas formas o preâmbulo por nós devorado.
Olhaste para os meus olhos e quizeste cegar-te.
Ouviste minha voz e desejou ouvir teu próprio grito...de medo.
Encontraste com minha pele na aquiescência de levantar meu véu,
E se entregaste a nós como a chuva se entrega à enxurrada, 
Que escorre de si mesma!

Sem Título

O silêncio é o ronco da noite!
E na queimada seca da solidão,
A fumaça que enubla é sono,
A fuligem que plana é sonho,
E as cinzas que sobram...recomeço!


És, também, sopro que vagueia,
Arrepiando pontas de estrelas
Borbulhadas no ocre da escuridão.

És, também, canto profundo e suave,
Se entornando pelas gretas do espaço
Dividido pela tarde chuvosa.

És, também, poeira fina que assenta,
Encapsulando a superfície dos sonhos
Bailarinos no palco das noites.

E és, também e acima de tudo, o meu insano desejo,
 Enlouquecendo meu sangue nas veias
Vias efusivas e tortuosas do amor.
 


Na Pele

Minha epiderme é minha história escrita em poros abertos,
com a introdução de diferentes tamanhos e espessuras de pêlos,
cada sinal, mancha e estria é uma página...
cada fissura, cicatriz e ruga é um capítulo...
E o sangue, este meu leitor incansável,
Já sabe que a conclusão me é feita de puro ossos.


quarta-feira

Poema Prisioneiro

Avisto-lhe murcho alimentando-se dos meus sonhos
por detrás das grades do pensamento.
Inquieto, sambanga de lá para cá,
procurando, talvez, uma fresta nessa mente de cimento.
Não cometes-te crime algum.
Foste preso simplesmente por serdes poesia,
e pagas com teus versos de inocência
pela aturdez insípida de minha hipocrisia.
Se deixei minha tristeza lhe condenar,
a noite mensageira veio lhe dizer:
As estrelas estão em coro no céu,
e cantam advogando por você!!!



segunda-feira

E ela chega...


A noite grunhindo rua a fora
Vem tomando os becos engasgados.
Ao longe, avista-se uma força impetuosa,
cavalgando atroz a galope de fúria.
Sento-me na escada que dá para as estrelas,
e recomeço o cricrilar em um pardo papel.
Breve, meus dedos montam ao céu,
entortando a cabeça dos deuses.
Solto-lhes as plumas pintadas,
e o zéfiro parte sem nada dizer-me.

sábado

AMOR LIVRE

O amo porque não o tenho!
Pois se o tivesse, não o amaria.
Tê-lo faria com que deixaste de ser amor e se tornasse propriedade.
Não amamos nossa propriedade!
Temos por ela apego e dependência.
...Só amamos o que nos apresenta como livre, o que nos foge ao controle.
Daí amar Deus...
Daí amar a Vida...
Daí amar você! 

 

segunda-feira

POEMA DO COPO

Preencheu-me de súbito e borbulhou sobre mim,
teu líquido quente embaçando meu vidro.
Não sei se eras nosso fervor ou o cigarro aceso ao lado,
que enublava com fumaça a superfície das coisas.
Mas do toque devoto ao desejo de cada gole,
sei que me apertava com as pontas enrubrescidas dos dedos.
E na ânsia de levar-me até os lábios secos,
eu suava e me fazia escorregar para atrasar teu regalo.
Não tardou para nossa sede esvaziar-me e abarrotar-lhe.
E então ali, do vazio úmido de teu resto,
Pude eu ficar cheio de outro líquido.


terça-feira

Sou Brisa quando te sonho...

Às vezes, quando adormeço e tu me preenches os sonhos,
acho que eu própria me embalo, vendo-me abraçada a ti.
Invariavelmente, enches-me de beijos a tua boca,
e ao percorrer-me a face, provoca-me pequenas cócegas.
O teu murmurar doce deixa-me num êxtase infinito.
Sinto, então, que perco matéria e me desfaço lentamente,
como que deslizando às tuas voltas e envolvendo-te em anéis sutis,
que fazem esvoaçar os teus cabelos...
Levando comigo as últimas palavras que pronunciaste,
 e os derradeiros beijos que tu me deste...




















Hoje, quero ser escritora sobre o papel do teu corpo.
Vou te gravar na pele, em palavras, aquilo que de dentro tu me trazes.
Para que, por absorção, regresse ao teu ser e jamais se perca,
e este ciclo se mantenha eterno.
A caneta é esta boca que repete com exaustão o que me fazes sentir.
E a tinta, essa indelével, é o amor que sinto por ti.
À medida que escrevo vou lhe cobrindo com pétalas vermelhas,
que esvoaçam ao encostar de nossas bocas,
e ao juntar dos nossos alentos em uníssono...



segunda-feira

AUSÊNCIA

Como é estupendo ouvir através do som da noite a melodia misteriosa do amor...
E na insípida aturdez das dissonâncias noturnas, eis que você surge...
bailando dentre meus pensamentos!
Logo, a lembrança de teu insano cheiro desperta minha imaginação,
E então, vejo como num delírio onírico nossos corpos efusivos 
se arrolando pela mística imensidão.
Olho para o infinito de teus olhos, prostados no vazio do espaço,
e busco com meu esquizofrênico tato,
a fantasia com a qual foi feito o teu corpo.
E ainda em surto, transmuto-o em alucinação, criando-te com magias e rituais, 
dando-lhe o contorno da arte, consagrando-te com o poder da criação;
Formoso, eis que renasce de minha mente, o ser majestoso todo feito de desejo...
Suas mãos emaranham-se em meus negros cabelos,
E junto ao meu corpo, permanece ainda, este frio que emana de sua AUSÊNCIA.


sábado

Escola do samba-vida

E lá se foi o Carnaval....
Sambando todo colorido pela avenida da vida.
Abriu as alas da esperança e dos bons encontros.
Foi destaque das paixões intensas e das alegrias efervescentes,
Compôs blocos de devires...animal..vegetal...devir criança!
Batucou em nossos corações e nos deu ritmo.
Corpos alegóricos!
E restaram os confetes em cores, serpentinas em fluxos, olhares e toques...
Micros carnavais cotidianos!

quarta-feira

CENTELHA DE GELO

E já passava da meia noite, quando sua mão emagrecida roçou o papel vazio e lhe imprimiu as primeiras coisas.
O que ouvia por detrás de sua embriaguês não era sequer a chuva densa que caia, senão as vozes daquilo que considerava ser ancestral.
Não demorou muito e seu peito já estava cerceado por uma penugem embranquecida.
Suas pestanas encolheram sob o sopro ardido do oco em que se encontrava.
E, então, de súbito, roubou-lhe o silêncio de si própria e o emprestou aos móveis antiquados e às penumbras que a permeiavam.
Trêmula, talvez pelo frio que entre as gretas da porta ousava perpassar, acendeu seu cigarro cambaleante.
Cada fluxo de fumaça escorregava sobre o plano invisível da realidade que criara para inventar seus próprios devaneios.
Arriscou um suspiro e denovo caiu na maciez solene de suas quimeras.
Enxergava com extrema lucidez o pálido brilho que ecoava de sua face refletida na tela do televisor, há muito desligado; e percebendo-se como infinitamente espectral, deixou de lado seu papel roçado, agora parcialmente recheado, para mastigar com os olhos sua inquietude de viver.



domingo

ACHADO DE 2003 - CONTO: A RUA ESPELHO

Andando de bicicleta pela noite calma e sombria, resolvi passar por uma rua escura e sólida que escondia por detrás de suas ondulações, o medo e a pressa. Num determinado lugar da rua, o medo passou, não, eu já não respeitava aquele lugar que pertencia às coisas obscuras e horrendas.
Os carros começaram a conspirar a meu favor e com seus radiantes faróis clareavam o lugar por onde os pneus de minha bicicleta percorriam. Mas, derrepente, sem motivo aparente, os carros sumiram no abismo do escuro e os pedais travaram, me impedindo de prosseguir o meu destino.
Parei rapidamente antes que caísse, e observei as marchas e a corrente para ver o que sucedera, mas o incrível foi que nada de errado havia em nenhuma parte de minha magrela.
Sem entender tal azaração, olhei para os lados à procura de ajuda, e o que somente encontrei foi escuridão, a não ser a lua que prateava certa parte do lugar onde eu estava, e então, pude ver claramente com meus olhos arregalados, que estava parada no meio de uma ponte por onde passava a merda do esgoto da cidade, ou seja, do borá, e que do meu lado direito havia outra parte em que a lua também clariava mais sombriamente, árvores e pedras intrigantes e medonhas, flores e folhas sinistras, e a água que se deslanchava em melodias bélicas e satíricas. Ao fundo se ouvia algo cantar, com uma voz aturdida, percebi que não era uma sereia, era um pássaro, esta pedra me contou, é segredo interno, interpretação.
Parada, segurando a bicicleta ainda travada, cheguei a conclusão de que aquele pássaro melancólico era eu, que seu canto passaroco eram meus pensamentos altos, que aquela escuridão pérfida era minha mente atordoada e que aquela lua nédia era simplesmente minha alma.
Agora, consciente de meus olhos inferiores, mais tranquila e sem motivo aparente, sentei na bicicleta e sem que nada mais pudesse me impedir, pedalei vagarosamente pelo resto da rua espelho.
A língua encolheu e ficou cheia dentro da boca,
Atirando como flecha os dentes endurecidos.
Babei...saliva escorreu e escorrendo deixou de ser.

Restos de Madrugada

Arranquei-lhe o véu intransponível do prazer,
E borrei-lhe com o turvo amadurecer
O calvário doce do gradativo falecer.


               ..................................

Não lhe apontei o atalho para o amor!
Apenas fui caminho alegórico enquanto tu andavas,
Em tua distração mister de louvor!

          .......................................


O tênue signo que o suor fende em teu corpo,
Dilacera minha epiderme entorpecida
Aos cântigos lúbricos e enfermos de seu toque.

                  .................................

Quem dera eu....
Fungar-lhe o peito todo.
E na alquimia de teu sexo,
Milhões de poesias compor!

ADEUS, OUTRA VEZ!

Libertai-me-ei de tua sombra,
Para que eu respire esse ar meu.
Tenho me sufocado com a tua ausência,
Sonhando ardentemente com o beijo seu.

Teus lábios macios e estáticos,
Têm fugido para longe dos meus,
Sempre fervorosos e incontidos,
Na ânsia sôfrega dos seus.

Terei de perdê-lo para encontrar-me,
Confusa e tétrica entre os olhos seus,
Misteriosos buracos negros do cosmo,
Que silenciosamente engolem os meus.

Retorne Elfo, para teu incógnito bosque neblinante,
E apenas ao anoitecer, busque-me nos sonhos meus.
Mas quando for dia e abrir os olhos eu quiser,
Se esconda entre minhas sombras para que eu não escute teu Adeus.

segunda-feira

PALAVREANDO


Tentei inventar as cores de eu pintura,
Nesta tela sôfrega de mim entardecer.
Toquei fios de pincéis ainda emaranhados,
Que sobre minhas tintas fez nascer.

Nascer.. de entranhas incógnitas,
De onde não enxergo pude ver...
Prenha de mim e do mundo,
Parida desse a-fecto de viver.

Raízes se espandem do coletivo das mentes,
Se conectam com o universo em verso.
Explodem em big-bangs dormentes.

De meus pés, brotam orelhas!
Ouçam a fertilidade dessa terra...
Desperto, e sou flor, rodeada de abelhas.

Escorre de Mim

Mergulhada na liquidez de teu silêncio
Afogo-me com o pouco que escorre de ti
E que encharca de súbito minh'alma.

Úmido, corre você por minhas veias,
Se entornando suavemente pelo meu corpo
Até que meus poros gotejem teu inebriante perfume.

Lhe bebo enquanto és saliva minha,
E ainda com sede...lhe espremo contra o peito
Na ilusão de que me reste uma gota orvalhada de você!

domingo

CHUVA


Por alguns instantes, eu queria ser como a chuva.
Essa coisa que nasce de uma nuvem
Cai cantarolando...
E vai embora, pela rua, brilhando.
É de uma constância estranha ouvi-la...
Parece molhar os pensamentos,
Encharcar as palavras, e
Umedecendo os sentimentos,
Faz nascer lodo nas lembranças.